Especialistas ouvidos pelo g1 acreditam que o baixo número de totalmente vacinados em Roraima pode ser explicado em três pontos:
- Baixa adesão
- Migração
- Demora na inserção de dados
1. Baixa adesão
Apenas três carros aguardam na fila de vacinação no Terminal de ônibus Luiz Canuto Chaves, Centro Rodrigues/G1
As filas cada vez menores divergem do início da campanha de vacinação no estado, e têm preocupado as autoridades locais. Em Boa Vista, a prefeitura chegou a promover a 'Virada da Vacina', com 37 mil doses da Pfizer disponíveis, mas apenas 9.763 foram aplicadas.
Nayara Melo, médica infectologista no Hospital Geral de Roraima (HGR), pontua que a taxa de adesão é afetada principalmente pelo medo da vacina, dos efeitos colaterais e por dúvidas em relação a eficácia dos imunizantes.
A vacina e o uso de máscara são os únicos meios de combate à Covid-19. Todas as vacinas usadas na campanha de vacinação no Brasil foram testadas e são seguras. Os benefícios desses imunizantes foram comprovados em estudos nacionais e internacionais.
"A gente sabe por fontes, como a Sociedade Brasileira de Vacinação, que a taxa de vacinação no Brasil, de maneira geral, tem caído nos últimos anos, principalmente nessa época de Covid. Há o medo de sair de casa, as dificuldades de acesso ao sistema de saúde, mas também, movimentos antivacinas nacionais e internacionais, que diminuem a taxa de adesão. Mas na vacina contra a Covid, especificamente, existe ainda um medo muito grande da população, com uma desacreditação da eficácia da vacina", disse Nayara. Segundo Diego Xavier, pesquisador do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), é preciso que Roraima busque uma integração entre o governo e prefeituras, para identificar a particularidade de cada região, e principalmente, intensifique a campanha contra a Covid.
"Para fazer as pessoas aderirem, tem que fazer campanha. A vacinação precisa de duas coisas, primeiro do imunizante e de campanha. Se falta uma das duas coisas, a vacinação não acontece. Hoje a gente até tem a disponibilidade [da vacina]. Agora, está faltando campanha para as pessoas aderirem mais. Especialmente em Roraima, que você tem essa distância, municípios mais isolados", complementa Xavier.
2. Migração
Migrantes usam rotas clandestinas para entrar no Brasil
Desde o final de 2015, Roraima passou a ser o destino de venezuelanos em fuga da crise política, econômica e social do regime de Nicolás Maduro. A situação se agravou em 2018: migrantes chegavam no Brasil e, sem perspectivas, moravam nas ruas e encaravam a pé a rota da fome para chegar a Boa Vista.
Em 2020, mesmo com o fechamento da fronteira em Pacaraima como medida para frear o avanço da pandemia, migrantes continuaram entrando no país por rotas clandestinas. O fluxo intenso voltou a ser registrado desde que o governo federal liberou a passagem de estrangeiros em situação de vulnerabilidade no dia 24 de junho. Conforme Diego Xavier, a contabilidade da proporção de habitantes considera apenas a população residente e não o fluxo de migrantes. Para isso, seria necessário o Censo Demográfico, elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que foi suspenso em 2021.
Para ele, esse "apagão" de dados afeta principalmente regiões pequenas como Roraima, que tem a menor população entre os estados brasileiros, com 652.713 residentes.
"Talvez a vacinação esteja acontecendo, mas os dados que a gente têm para avaliar isso, não permitem uma avaliação mais precisa. Então, pode ser sim que o estado esteja muito mais adiantado, mas pode ser que a informação não está chegando. Pode ser que tem gente não aderindo a vacinação, que esteja vacinando pessoas de outro país que estão como residentes, mas não estão entrando nesse cálculo".
3. Demora na inserção de dados
Queda na internet registrada em Roraima deixa população offline
Xavier acredita que o baixo número da vacinação também pode estar relacionado a demora na inserção do dados no sistema do Ministério da Saúde.
A instabilidade na internet em Roraima já afetou a divulgação diária de casos e mortes da Secretaria de Saúde (Sesau). No último dia 28 de agosto, o estado também chegou a ficar por cinco horas completamente offline e sem acesso à ligações e sistemas bancários. "Roraima tem um processo bem distante, bastante cumprido. Provavelmente, a gente tem um problema nos registros. Várias vacinas que estão sendo aplicadas, o registro não está chegando nos sistemas de informação, devido a dificuldade de internet na região". Fonte;g1 RR
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